Para Mayra Siqueira, gerente geral da Binance no Brasil, o Bitcoin é seguro. Prova disso, falou, é que a blockchain, tecnologia por trás da criptomoeda, nunca foi hackeada ao longo desses 13 anos de história. E isso se deve, continuou Mayra, principalmente ao mecanismo criado por Nakamoto, em especial a dois recursos: o consenso e a imutabilidade.
“O consenso refere-se à capacidade dos nós (computadores ou dispositivos conectados à interface do Bitcoin), dentro de uma rede blockchain distribuída, de concordar com o estado verdadeiro da rede e com a validade das transações. Já a imutabilidade, por outro lado, refere-se à capacidade da blockchain de impedir a alteração de transações que já foram confirmadas”.
Mayara Siqueira
Na prática, esses dois recursos permitem que transações entre pessoas desconhecidas sejam realizadas sem a necessidade de uma terceira parte – como um banco ou uma empresa de remessa internacional – para garantir a transferência.
Mayra disse que, além de ter tecnologia confiável, o Bitcoin também é um investimento seguro. No entanto, falou, o investidor precisa fazer o dever de casa e estudar o BTC com cuidado, pois ele é “considerado de risco por conta da oscilação”.
O economista Fernando Antônio de Barros Júnior, professor doutor da USP, também disse que o BTC é um investimento seguro. Entretanto, falou, é um ativo de alto risco. “Por isso, o investidor deve fazer aquilo que é recomendado por qualquer curso básico de educação financeira: ponderar a questão do risco e do retorno e nunca colocar todos os ovos na mesma cesta”.

O que é mineração de Bitcoin
A mineração de Bitcoin, em resumo, é o nome dado ao processo de validar as transações blockchain e receber, como recompensa, novas criptomoedas. Para entender melhor, leia a comparação abaixo:
Para a Maria (personagem fictício), que mora no Brasil, transferir R$ 5 mil para a conta de João (personagem fictício), que vive na Inglaterra, esse dinheiro precisa passar por algum terceiro, como um banco, que atua como garantidor da transação e cobra uma taxa pelo serviço. No caso do Bitcoin, parte deste papel é função dos mineradores.
Portanto, se a Maria, em vez de enviar moeda fiduciária, resolver mandar 1 BTC para o João, algum minerador da rede deve registrar a transação na blockchain. E toda vez que ele realiza essa ação, ganha um incentivo em criptomoeda. Atualmente, aquele que consegue validar uma transação embolsa 6,25 Bitcoin. Em 22 de outubro, dia em que o BTC era negociado a R$ 343 mil, o “sortudo” que foi validou uma transação levou para casa R$ 2,1 milhões em criptomoeda.
Apenas lendo o parágrafo acima, parece muito fácil minerar Bitcoin – mas não é. Isso porque, para conseguir fazer o registro e ganhar BTC, o minerador precisa executar uma Prova de Trabalho (algoritmo), que na prática é um complexo problema matemático. Esse cálculo é resolvido, em média, em 10 minutos – que é o tempo que uma transação é confirmada na rede do BTC.
Mas o detalhe, que deixa a tarefa extremamente difícil, é que há milhares de mineradores tentando resolver a equação ao mesmo tempo. E como há muitos competidores, mais árduo fica encontrar a solução, e mais poder computacional é necessário.
Como minerar Bitcoin
Logo após a criação do Bitcoin, qualquer um podia facilmente minerar a criptomoeda em casa. Bastava conectar um computador (com uma placa de vídeo razoável) na rede do BTC e mantê-lo ligado para resolver os complexos problemas matemáticos.
Atualmente, no entanto, é praticamente impossível “extrair” Bitcoin por meio de um PC comum. Isso porque é preciso utilizar equipamentos específicos para a função, chamados de circuitos integrados de aplicação específica (ASIC).
Mas não basta ter apenas um, dois ou três hardwares. Para resolver os cálculos e levar as recompensas, é necessário ter um poder computacional enorme, e a cada dia a exigência cresce mais. Hoje, há fazendas de mineração com milhares de equipamentos dedicados exclusivamente à mineração de Bitcoin.
Dada a complexidade da tarefa e o alto investimento no negócio, essas fazendas de mineração costumam se organizar em pools (conjuntos) de mineradores que trabalham juntos para competir pela validação das transações, aumentando as chances de receber a recompensa em BTC – quando um pool consegue vencer a batalha, os 6,25 BTC recebidos são divididos entre os participantes na proporção do poder computacional entregue.
O que é blockchain?
Blockchain é um banco de dados com armazenamento público, sem gestão centralizada. A finalidade é distribuir informações com transparência e possibilidade de auditoria.
Não são somente as criptomoedas que fazem uso desse sistema: outras aplicações são o armazenamento de arquivos digitais, o rastreamento de mercadorias e o registro de certificados e contratos.
Podemos definir o que é blockchain como uma cadeia de blocos que integram um sistema de registro coletivo. Os dados não permanecem, portanto, em um só lugar. Eles ficam distribuídos entre os diferentes computadores ligados à tecnologia blockchain.
Quais são os elementos e os pilares do blockchain?
Para esmiuçar melhor o conceito de blockchain, precisamos definir elementos e pilares dessa tecnologia, que podem ser considerados, ainda, como vantagens. Confira!
Tecnologia de livro-razão distribuído
Os participantes do sistema podem acessar o livro-razão distribuído e todo o registro de transações que ele comporta.
O compartilhamento do livro-razão permite que as transações sejam registradas apenas uma vez. Isso contribui para que atividades duplicadas — típicas nas redes corporativas — sejam eliminadas.
Registros imutáveis
Ninguém que participa das transações pode modificar ou corromper a mesma após o registro no livro-razão compartilhado.
Caso um registro de transação contenha alguma falha, outro negócio precisará ser incluso para reverter. Além disso, as duas transações serão visíveis.
Contratos inteligentes
O contrato inteligente é um conjunto de regras armazenado no blockchain que agiliza as transações e é realizado automaticamente.
É um contrato inteligente que pode determinar condições para transferir o seguro-garantia corporativo, envolver termos para pagar seguro-viagem e outras coisas.
Pilares do blockchain
Os pilares do blockchain são: descentralização, transparência e livre acesso. Veja!
Descentralização: No sistema de blockchain, não existe um grupo ou uma organização central com poderes para cancelar e/ou reverter transações, ou modificar regras sem a autorização dos participantes.
Mesmo que, tecnicamente, os ataques sejam possíveis, a descentralização do blockchain possibilita divisão na rede, deixando de lado blocos indesejados pelos participantes.
Transparência e livre acesso: Nas redes abertas de blockchain, podemos auditar as transações em tempo real, além da quantidade que já foi emitida.
Esse é um processo sem custos e simples, que permite usar nó (node) ou depositar confiança em um terceiro por meio de exploradores de bloco (block explorers) encontrados na Internet.
Como funciona a tecnologia blockchain?
A tecnologia blockchain organiza blocos de dados em uma cadeia de sequências. A princípio, ela foi chamada de “timechain” (cadeia temporal).
Essa é uma tecnologia que assegura que ninguém aplique fraudes nas transações porque os saldos de cada endereço estão condicionados a movimentações do passado.
Diferentemente do que ocorre com as contas bancárias — um banco de dados guarda os saldos e pode até eliminar o histórico de períodos mais extensos —, a tecnologia blockchain faz o registro somente das movimentações.
Para fazer o cálculo dos saldos, é preciso conhecer todo o histórico da rede, todas as transações a partir da emissão da criptomoeda.
A validação ocorre rapidamente e não há consumo de muita energia, sendo armazenada em cada pessoa que roda o software de Bitcoin. Alguns sites oferecem esse serviço de consulta gratuitamente.
A cada 10 minutos, aproximadamente, blocos novos surgem. Sempre que uma solução eficaz aparece para um bloco, se desenvolve a competitividade para a mineração de outro bloco. Quem obtém essa resposta (hash) oferecida pelos mineradores são os nodes, ou seja, os usuários do sistema.
Dessa forma, os mineradores conseguem encontrar a resposta (hash) que liga o bloco precedente ao subsequente. São os usuários do sistema que validam a hash e, simultaneamente, decidem qual é a sequência mais extensa de blocos que deve ser seguida.
Os blocos de blockchain apresentam:
- hora e data em que o bloco passou por mineração — o que favorece que se leia a sequência de dados em ordem cronológica;
- volume transacionado — se a criptomoeda é Bitcoin, o valor é dado em Bitcoins; se a criptomoeda é Ethereum, o valor é em ETH, e assim por diante;
- partes da transação — em vez de utilizar dados pessoais, como CPF ou nome, o sistema utiliza endereço digital de origem e de destino de cada volume;
- hashes únicas que identificam cada negócio individualmente — são chamadas de transaction ID ou TXID.
Como cada bloco de dados tem a resposta do bloco anterior, se uma transação, por mais simples que seja, for adulterada, causará um efeito dominó na cadeia — mas não é simples adulterar.
Para resumir, podemos separar o funcionamento do blockchain da seguinte forma:
- começo da transação — dois usuários iniciam o compartilhamento de algum dado;
- montagem do bloco — a transferência é reunida em grupo e penetra na rede de computadores compartilhados;
- verificação — define-se um conjunto de regras para que os computadores participantes analisem e calculem a transação (a verificação ocorre apenas depois que todos os envolvidos concordam);
- criptografia — o bloco analisado passa por um processo de criptografia e gravação;
- execução — a transferência é finalizada entre os usuários.